UM ANJO - .(outubro 1855)
Foste a rosa desfolhada Na urna da eternidade Pr’a sorrir mais animada, Mais bela, mais perfumada Lá na etérea imensidade.
Rasgaste o manto da vida, E anjo subiste ao céu Como a flor enlanguecida
Que o vento pô-la caída E pouco a pouco morreu!
Tu’alma foi um perfume Erguido ao sólio divino; Levada ao celeste cume C’os Anjos oraste ao Nume Nas harmonias dum hino.
Alheia ao mundo devasso, Passaste a vida sorrindo; Derribou-te, ó ave, um braço, Mas abrindo asas no espaço Ao céu voaste, anjo lindo.
Esse invólucro mundano Trocaste por outro véu; Deste negro pego insano Não sofreste o menor dano Que tu’alma era do Céu.
Foste a rosa desfolhada Na urna da eternidade Pr’a sorrir mais animada Mais bela, mais perfumada Lá na etérea imensidade.
(Machado de Assis)
Poema de Machado de Assis
domingo, 19 de junho de 2011.